quinta-feira, 7 de maio de 2015

A MAÇONARIA É SECRETA?

Para responder a essa pergunta, é preciso termos em mente uma definição do que é Maçonaria. No entanto, suas origens não são perfeitamente definidas; de modo que existem várias escolas que estudam as mais diversas hipóteses, e que situam seu início em épocas diversas: desde os mais remotos tempos até a criação das Lojas especulativas. Este fato dificulta uma definição clara que possa corresponder a todos os pensamentos.

Independentemente de qualquer definição sobre o que é Maçonaria, pode-se verificar facilmente que ela tem sido, no decorrer dos séculos, ora perseguida ora bem considerada.

Por um lado, os maçons têm sobrevivido a inúmeras perseguições, quando a Maçonaria foi alvo de campanhas virulentas, e uma série extensa de obras anti-maçônicas foi, e é ainda, publicada e lida.

Por outro lado, importantes filósofos, sábios, cientistas e políticos dela fizeram parte e escreveram a seu respeito obras respeitáveis e elogiosas.

Por que esse fenômeno? Por que a Ordem desperta tanto ódio e hostilidade, ao mesmo tempo provoca tanta admiração por parte de pessoas bem formadas e influentes? Que particularidades a tornam indispensável, de modo a persistir durante séculos?

Baseando-se nestas perguntas, a definição de Maçonaria deve ser específica da instituição, não sendo de mais nenhuma outra.

Se assim não fosse, a Ordem seria dispensável e sua existência seria uma duplicação de esforços.

Uma definição da Maçonaria deve ser buscada naquilo que a torna especial e única. E com essa linha de raciocínio, pode-se fazer uma lógica inversa, começando-se por responder o que a Maçonaria não é.

O que a Maçonaria não é:

§ A Maçonaria não é um grêmio voltado apenas para a promoção de obras sociais, o
que jamais pode ser confundido com o propósito da Ordem.
Para este objetivo existem entidades muito mais eficientes, criadas com este
fim específico, como os clubes de serviços.

§ A Maçonaria não é um clube fechado de intelectuais, que apenas produz discursos. Isto seria um notável desperdício de talentos, pois existem as várias Academias, que poderiam ser mais produtivas com a presença de mais gente capaz. E para atingir este
objetivo, não seriam necessárias Iniciações ou, muito menos, sessões ritualísticas.

§ A Maçonaria não é uma sociedade fechada que ofereça a seus membros a oportunidade de ocupar um cargo de título pomposo ou que lhes ofereça faixas, medalhas e condecorações. Associações com esta finalidade existem em grande número e têm na própria execução do ritual sua razão de ser. Funcionam muito mais como fuga de uma realidade.

§ A Maçonaria não é um pretexto, ou oportunidade, para o sadio exercício do companheirismo.
Para isso, não deveria ser obrigatório um pretexto, nem que fossem criadas oportunidades especiais, pois para tanto não é necessário qualquer método iniciático nem obediência a Rituais.
Não se pode pensar em camaradagem escocesista, ou moderna, ou adhoniramita, ou brasileira, ou "à moda de York" ou "de Schroeder".

§ A Maçonaria não é uma instituição religiosa. Uma vez que as instituições salvacionistas são organizadas, dirigidas e oficiadas por pessoas especializadas,
profissionais, intensamente preparadas para o seu ofício. Vista como ordem religiosa, a Maçonaria seria mais uma entre tantas, mais organizadas e eficientes em relação a seus objetivos próprios.
§ A Maçonaria não é um clube ou partido político. O maçom, homem de seu tempo, vive a vida contemporânea do seu país. Vivendo a realidade presente, percebe o quanto de desumanidade, violência e materialismo selvagem existe ao seu redor, sendo eventualmente uma de suas vítimas.
Imerso em tudo isso, o Maçom faz parte do enunciado do problema e, se pratica os seus ensinamentos, está obrigado a participar da proposta de sua solução.

§ A Maçonaria não é, enfim, algo distante do homem, mas, ao contrário, é alguma coisa criada pelo homem, para seu proveito e para ser praticada por ele. A Loja, pelas suas características, é um modelo reduzido da sociedade geral, e modelo de extrema fidelidade da realidade que representa.

Mas é preciso manter em mente que a Oficina não é um clube político, e essa então também não é a vocação da Loja, de vez que a atividade pode ser levada a cabo em outras organizações de maneira mais eficiente, sem as limitações do ritual, que visa outro objetivo certamente.

Materialmente Revelada

Depois de comparada a outras instituições, pode-se usar a seguinte definição: “A Maçonaria é uma instituição que tem por objetivo tornar feliz a Humanidade pelo amor, pelo aperfeiçoamento dos costumes, pela tolerância, pela igualdade, pelo respeito à autoridade e à crença de cada um”.

E sendo uma instituição, ela tem seu caráter material.

Materialmente, a Maçonaria é formada por potências maçônicas e suas respectivas Lojas. As Grandes Lojas e suas afiliadas são pessoas jurídicas, sendo documentadas segundo todas as leis de seu país. Elas possuem endereços e prédios que mostram abertamente do que se tratam.

Logo, pode-se considerar que a Maçonaria não é secreta materialmente, ficando visível aos olhos de quem quiser procurá-la; e quem o fizer terá acesso aos seus princípios universais, divulgados sem qualquer sigilo.
Além disso, é visível a identificação dos maçons através de broches, adesivos plásticos e até mesmo em entrevistas na televisão ou rádio. Logo, se é facultado ao maçom se revelar publicamente, como pode ele pertencer a uma instituição secreta?

Concluindo, pode-se assegurar que, no plano material, a ordem maçônica nada tem de secreta.

O que se pode afirmar é que ela é discreta, não revelando diretamente aspectos mais sutis a quem não mereça. E são estes aspectos menos densos os objetos de estudo mais a seguir.


O Segredo

“... Quando achar um bem em toda a fé que ajuda qualquer homem a ver as coisas divinas e a perceber significações majestosas na vida, qualquer que seja o nome dessa crença... Quando conservar a fé em si mesmo, em seus companheiros, em seu Deus, em sua mão uma espada contra o mal, em seu coração um pouco de canção — satisfeito por viver mas não temendo morrer, tal homem encontrará o único real segredo da Maçonaria, aquela que ela procura transmitir ao mundo inteiro.” Joseph F. Newton

É possível verificar neste trecho que, segundo o autor, o grande segredo da Maçonaria está simplesmente em saber viver, baseando-se em princípios fundamentais.

Ao mesmo tempo, pode-se verificar uma “contradição” neste fragmento: este princípio é ao mesmo tempo o único e real segredo, mas que ao mesmo tempo a Maçonaria procura transmitir ao mundo inteiro!

Como pode algo ser um segredo e estar sendo espalhado para o mundo todo? Para responder essa pergunta, é importante saber definir bem o que é o “sigilo do maçom”. Tal sigilo, segundo Dario Vellozo, é a pedra de toque que dá o caráter do maçom.

Não que o segredo seja sempre necessário pela natureza dos assuntos tratados em Loja; mas, porque habitua o maçom à circunspecção, corrige a leviandade, o charlatanismo e a tagarelice.

Ao pensar com segurança, meditar com paciência e julgar com imparcialidade, o maçom trabalha grato por um dever consciente e obterá suas recompensas sem aplausos e sem agradecimentos.

Guardar sigilo sobre graças (seja no plano material, filosófico ou espiritual) concedidas ou recebidas é “poupar o indigente o rubor da esmola; é merecer para a Ordem a confiança e as bênçãos das vítimas do infortúnio.”

É certo que o segredo de se saber viver, que é espalhado ao mundo inteiro, não limita seu esforço egoisticamente só para os iniciados na Maçonaria. Não sendo correto que a nossa instituição reservasse sectariamente a Luz aos seus, excluindo homens profanos justos, ela divulga, sem segredo, seus princípios universais:

§ A Maçonaria proclama, como sempre proclamou desde a sua origem, a existência de um Principio Criador, sob a denominação de Grande Arquiteto do Universo.

§ A Maçonaria não impõe nenhum limite a livre investigação da Verdade e para garantir a todos essa liberdade que exige, de todos, a maior tolerância.

§ A Maçonaria é acessível aos homens de todas as classes sociais, de todas as crenças religiosas e preferências políticas, exceto aquelas que privem o homem da liberdade de consciência, restrinjam os direitos e a dignidade da pessoa humana.

§ A Maçonaria tem por fim combater a ignorância em todas as suas modalidades; é
uma escola que impõe obedecer às leis do país, amar o próximo, trabalhar pela felicidade do gênero humano.

§ Reconhece a prevalência do Espírito sobre a Matéria, e afirma o princípio cardeal da tolerância mútua, para que sejam respeitadas as convicções, a dignidade e a autonomia do indivíduo como personalidade humana.

§ Aceita a existência da Alma, e, subsidiariamente a esta crença, a da vida futura.

Com seus princípios universais revelados e com a discrição que o sigilo maçônico impõe, a Maçonaria espalha seu segredo a quem quiser e tiver condições de ouvir, aceitando todos os homens livres e de bons costumes.

Deste modo, a Maçonaria é um segredo não por falta de bocas para divulgá-lo, mas da falta de ouvidos para escutá-lo. Para corroborar esta afirmação, pode-se tomar como exemplo o seguinte trecho da Constituição de Anderson: “Não é maçom quem quer e sim quem pode ser.”

O Humanismo

Os ensinamentos maçônicos induzem seus adeptos a dedicarem-se a felicidade de seus semelhantes, não porque a razão e a justiça lhes imponham esse dever, mas porque esse sentimento de solidariedade é a qualidade inata, que os fez filhos do Universo e amigos de todos os homens – fiéis observadores da lei do Amor e da Simpatia que Deus estabeleceu na Terra.

Desde modo, a Maçonaria se impõe os objetivos de desfazer nos homens os preconceitos de casta, as convencionais distinções de cor, de origem, de religião e de nacionalidade; de aniquilar o fanatismo e a superstição, extirpar os ódios de raça e com eles, o açoite da guerra; e de chegar, pelo livre e pacífico progresso, a uma fórmula e modelo de eterna e universal justiça, segundo a qual, todo o ser humano possa desenvolver livremente as faculdades de que esteja dotado. E possa ele vir a concorrer cordialmente com todas as forças para a comum felicidade dos seres humanos – de sorte que a Humanidade venha a ser uma só família de irmãos unidos pelo afeto, pela cultura e pelo trabalho.

n Bibliografia
1. Temas para Reflexão do Mestre Maçom – Marcos Santiago – Ed. A Trolha
2. Manual do Mestre Maçom – Manoel Gomes – Ed. Aurora
3. Regimento Geral da Grande Loja do Estado do Rio de Janeiro



Transcrito de “A Oficina” (Novembro – Ano VIII – 2001) - periódico editado pela Augusta Respeitável e Benemérita Loja Maçônica Perfeita União 8 nº 70 – jurisdicionada à M.R. Grande Loja Maçônica do Estado do Rio de Janeiro.

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