A MAÇONARIA É SECRETA?
Para responder a essa pergunta, é preciso termos em mente
uma definição do que é Maçonaria. No entanto, suas origens não são
perfeitamente definidas; de modo que existem várias escolas que estudam as mais
diversas hipóteses, e que situam seu início em épocas diversas: desde os mais
remotos tempos até a criação das Lojas especulativas. Este fato dificulta uma
definição clara que possa corresponder a todos os pensamentos.
Independentemente de qualquer definição sobre o que é
Maçonaria, pode-se verificar facilmente que ela tem sido, no decorrer dos
séculos, ora perseguida ora bem considerada.
Por um lado, os maçons têm sobrevivido a inúmeras
perseguições, quando a Maçonaria foi alvo de campanhas virulentas, e uma série
extensa de obras anti-maçônicas foi, e é ainda, publicada e lida.
Por outro lado, importantes filósofos, sábios, cientistas
e políticos dela fizeram parte e escreveram a seu respeito obras respeitáveis e
elogiosas.
Por que esse fenômeno? Por que a Ordem desperta tanto ódio
e hostilidade, ao mesmo tempo provoca tanta admiração por parte de pessoas bem
formadas e influentes? Que particularidades a tornam indispensável, de modo a
persistir durante séculos?
Baseando-se nestas perguntas, a definição de Maçonaria
deve ser específica da instituição, não sendo de mais nenhuma outra.
Se assim não fosse, a Ordem seria dispensável e sua
existência seria uma duplicação de esforços.
Uma definição da Maçonaria deve ser buscada naquilo que a
torna especial e única. E com essa linha de raciocínio, pode-se fazer uma
lógica inversa, começando-se por responder o que a Maçonaria não é.
O que a Maçonaria
não é:
§
A Maçonaria não é um grêmio voltado apenas para a promoção de obras
sociais, o
que jamais pode ser confundido com o propósito da Ordem.
Para este objetivo existem entidades muito mais
eficientes, criadas com este
fim específico, como os clubes de serviços.
§
A Maçonaria não é um clube fechado de intelectuais, que apenas produz
discursos. Isto seria um notável desperdício de talentos, pois existem as
várias Academias, que poderiam ser mais produtivas com a presença de mais gente
capaz. E para atingir este
objetivo, não seriam necessárias Iniciações ou, muito
menos, sessões ritualísticas.
§
A Maçonaria não é uma sociedade fechada que ofereça a seus membros a
oportunidade de ocupar um cargo de título pomposo ou que lhes ofereça faixas,
medalhas e condecorações. Associações com esta finalidade existem em grande
número e têm na própria execução do ritual sua razão de ser. Funcionam muito
mais como fuga de uma realidade.
§
A Maçonaria não é um pretexto, ou oportunidade, para o sadio exercício do
companheirismo.
Para isso, não deveria ser obrigatório um pretexto, nem
que fossem criadas oportunidades especiais, pois para tanto não é necessário
qualquer método iniciático nem obediência a Rituais.
Não se pode pensar em camaradagem escocesista, ou moderna,
ou adhoniramita, ou brasileira, ou "à moda de York" ou "de
Schroeder".
§
A Maçonaria não é uma instituição religiosa. Uma vez que as instituições
salvacionistas são organizadas, dirigidas e oficiadas por pessoas
especializadas,
profissionais, intensamente preparadas para o seu ofício.
Vista como ordem religiosa, a Maçonaria seria mais uma entre tantas, mais
organizadas e eficientes em relação a seus objetivos próprios.
§
A Maçonaria não é um clube ou partido político. O maçom, homem de seu
tempo, vive a vida contemporânea do seu país. Vivendo a realidade presente,
percebe o quanto de desumanidade, violência e materialismo selvagem existe ao
seu redor, sendo eventualmente uma de suas vítimas.
Imerso em tudo isso, o Maçom faz parte do enunciado do
problema e, se pratica os seus ensinamentos, está obrigado a participar da
proposta de sua solução.
§
A Maçonaria não é, enfim, algo distante do homem, mas, ao contrário, é
alguma coisa criada pelo homem, para seu proveito e para ser praticada por ele.
A Loja, pelas suas características, é um modelo reduzido da sociedade geral, e
modelo de extrema fidelidade da realidade que representa.
Mas é preciso manter em mente que a Oficina não é um clube
político, e essa então também não é a vocação da Loja, de vez que a atividade
pode ser levada a cabo em outras organizações de maneira mais eficiente, sem as
limitações do ritual, que visa outro objetivo certamente.
Materialmente Revelada
Depois de comparada a outras instituições, pode-se usar a
seguinte definição: “A Maçonaria é uma instituição que tem por objetivo tornar
feliz a Humanidade pelo amor, pelo aperfeiçoamento dos costumes, pela
tolerância, pela igualdade, pelo respeito à autoridade e à crença de cada um”.
E sendo uma instituição, ela tem seu caráter material.
Materialmente, a Maçonaria é formada por potências
maçônicas e suas respectivas Lojas. As Grandes Lojas e suas afiliadas são
pessoas jurídicas, sendo documentadas segundo todas as leis de seu país. Elas
possuem endereços e prédios que mostram abertamente do que se tratam.
Logo, pode-se considerar que a Maçonaria não é secreta
materialmente, ficando visível aos olhos de quem quiser procurá-la; e quem o
fizer terá acesso aos seus princípios universais, divulgados sem qualquer
sigilo.
Além disso, é visível a identificação dos maçons através
de broches, adesivos plásticos e até mesmo em entrevistas na televisão ou
rádio. Logo, se é facultado ao maçom se revelar publicamente, como pode ele
pertencer a uma instituição secreta?
Concluindo, pode-se assegurar que, no plano material, a
ordem maçônica nada tem de secreta.
O que se pode afirmar é que ela é discreta, não revelando
diretamente aspectos mais sutis a quem não mereça. E são estes aspectos menos
densos os objetos de estudo mais a seguir.
O Segredo
“... Quando
achar um bem em toda a fé que ajuda qualquer homem a ver as coisas divinas e a
perceber significações majestosas na vida, qualquer que seja o nome dessa
crença... Quando conservar a fé em si mesmo, em seus companheiros, em seu Deus,
em sua mão uma espada contra o mal, em seu coração um pouco de canção —
satisfeito por viver mas não temendo morrer, tal homem encontrará o único real segredo
da Maçonaria, aquela que ela procura transmitir ao mundo inteiro.” Joseph F. Newton
É possível verificar neste trecho que, segundo o autor, o
grande segredo da Maçonaria está simplesmente em saber viver, baseando-se em
princípios fundamentais.
Ao mesmo tempo, pode-se verificar uma “contradição” neste
fragmento: este princípio é ao mesmo tempo o único e real segredo, mas que ao
mesmo tempo a Maçonaria procura transmitir ao mundo inteiro!
Como pode algo ser um segredo e estar sendo espalhado para
o mundo todo? Para responder essa pergunta, é importante saber definir bem o
que é o “sigilo do maçom”. Tal sigilo, segundo Dario Vellozo, é a pedra de
toque que dá o caráter do maçom.
Não que o segredo seja sempre necessário pela natureza dos
assuntos tratados em Loja; mas, porque habitua o maçom à circunspecção, corrige
a leviandade, o charlatanismo e a tagarelice.
Ao pensar com segurança, meditar com paciência e julgar
com imparcialidade, o maçom trabalha grato por um dever consciente e obterá
suas recompensas sem aplausos e sem agradecimentos.
Guardar sigilo sobre graças (seja no plano material,
filosófico ou espiritual) concedidas ou recebidas é “poupar o indigente o rubor
da esmola; é merecer para a Ordem a confiança e as bênçãos das vítimas do
infortúnio.”
É certo que o segredo de se saber viver, que é espalhado
ao mundo inteiro, não limita seu esforço egoisticamente só para os iniciados na
Maçonaria. Não sendo correto que a nossa instituição reservasse sectariamente a
Luz aos seus, excluindo homens profanos justos, ela divulga, sem segredo, seus
princípios universais:
§
A Maçonaria proclama, como sempre
proclamou desde a sua origem, a existência de um Principio Criador, sob a denominação
de Grande Arquiteto do Universo.
§
A Maçonaria não impõe nenhum limite a
livre investigação da Verdade e para garantir a todos essa liberdade que exige,
de todos, a maior tolerância.
§
A Maçonaria é acessível aos homens de
todas as classes sociais, de todas as crenças religiosas e preferências
políticas, exceto aquelas que privem o homem da liberdade de consciência,
restrinjam os direitos e a dignidade da pessoa humana.
§
A Maçonaria tem por fim combater a
ignorância em todas as suas modalidades; é
uma escola que impõe obedecer às leis do país, amar o próximo,
trabalhar pela felicidade do gênero humano.
§
Reconhece a prevalência do Espírito
sobre a Matéria, e afirma o princípio cardeal da tolerância mútua, para que sejam
respeitadas as convicções, a dignidade e a autonomia do indivíduo como personalidade
humana.
§
Aceita a existência da Alma, e,
subsidiariamente a esta crença, a da vida futura.
Com seus princípios universais revelados e com a discrição
que o sigilo maçônico impõe, a Maçonaria espalha seu segredo a quem quiser e
tiver condições de ouvir, aceitando todos os homens livres e de bons costumes.
Deste modo, a Maçonaria é um segredo não por falta de
bocas para divulgá-lo, mas da falta de ouvidos para escutá-lo. Para corroborar
esta afirmação, pode-se tomar como exemplo o seguinte trecho da Constituição de
Anderson: “Não é maçom quem quer e sim quem pode ser.”
O Humanismo
Os ensinamentos maçônicos induzem seus adeptos a
dedicarem-se a felicidade de seus semelhantes, não porque a razão e a justiça
lhes imponham esse dever, mas porque esse sentimento de solidariedade é a
qualidade inata, que os fez filhos do Universo e amigos de todos os homens –
fiéis observadores da lei do Amor e da Simpatia que Deus estabeleceu na Terra.
Desde modo, a Maçonaria se impõe os objetivos de desfazer nos
homens os preconceitos de casta, as convencionais distinções de cor, de origem,
de religião e de nacionalidade; de aniquilar o fanatismo e a superstição, extirpar
os ódios de raça e com eles, o açoite da guerra; e de chegar, pelo livre e
pacífico progresso, a uma fórmula e modelo de eterna e universal justiça, segundo
a qual, todo o ser humano possa desenvolver livremente as faculdades de que esteja
dotado. E possa ele vir a concorrer cordialmente com todas as forças para a
comum felicidade dos seres humanos – de sorte que a Humanidade venha a ser uma
só família de irmãos unidos pelo afeto, pela cultura e pelo trabalho.
n
Bibliografia
1. Temas para Reflexão do Mestre Maçom – Marcos Santiago –
Ed. A Trolha
2. Manual do Mestre Maçom – Manoel Gomes – Ed. Aurora
3. Regimento Geral da Grande Loja do Estado do Rio de
Janeiro
Transcrito de “A Oficina” (Novembro – Ano VIII – 2001) -
periódico editado pela Augusta Respeitável e Benemérita Loja Maçônica Perfeita
União 8 nº 70 – jurisdicionada à M.R. Grande Loja Maçônica do Estado do Rio de
Janeiro.
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