Origens da Maçonaria no Brasil
Embora tenha a Maçonaria brasileira, se iniciado em 1797 com a Loja
Cavaleiros da Luz, criada na povoação da Barra, em Salvador, Bahia, e ainda com
a Loja União.
No ano de 1815 estudantes brasileiros retornados da Universidade
de Coimbra (Portugal), onde haviam sido iniciados maçons, engajavam-se
decididamente na luta política pela independência das províncias ultramarinas
de Portugal na América do Sul, que constituíam àquela altura o Reino do Brasil,
com Capital na cidade do Rio de Janeiro.
Desde 1808 achava-se abrigada nessa
cidade a família real de Portugal, fugida da Europa face à invasão de Napoleão
Bonaparte.
Algumas Lojas Maçônicas haviam sido
criadas em território brasileiro pelo menos desde 1797, mas para nós interessa
o registro da fundação, em novembro de 1815, da Loja “Comércio e Artes”,
fundada por maçons decididamente engajados no propósito de promover a
independência política das províncias brasileiras.
Tendo em vista o Alvará Régio de 30
de março de 1818, que proibia o funcionamento no Brasil de sociedades secretas,
esta Loja foi fechada e todos os seus livros queimados, conforme ficou
registrado na “ata da sessão de reinstalação”. Esta reinstalação ou
reerguimento de colunas foi realizada em 24 de junho de 1821, constando da ata
que a Loja passaria a adotar o título distintivo de “Comércio e Artes na Idade
do Ouro”.
Esta Loja “Comércio e Artes na Idade
do Ouro” é a origem do Grande Oriente do Brasil, pois em sessão de 17 de junho
de 1822 resolveu criar mais duas Lojas — a “Esperança de Niterói” e a “União e
Tranqüilidade”—, pelo desdobramento de seu quadro
(por sorteio), e a partir dessas três Lojas
Metropolitanas formarem o Grande Oriente.
Dentre os componentes da Loja
destacam-se as figuras de Joaquim Gonçalves Ledo e o padre-mestre Januário da
Cunha Barbosa, dois ativistas do processo de independência política do Brasil.
José Bonifácio de Andrada e Silva,
“O Patriarca da Independência”, foi aclamado primeiro Grão-Mestre do Grande
Oriente, tendo Joaquim Gonçalves Ledo como 1º Grande Vigilante e Januário da
Cunha Barbosa como Grande Orador.
O objetivo primordial da criação do
Grande Oriente foi engajar a Maçonaria, como Instituição, na luta pela
independência política do Brasil e tal determinação consta de forma explícita
nas atas das primeiras reuniões da Obediência então criada, que só admitia a
iniciação ou filiação em suas Lojas de pessoas que se comprometessem com o
ideal de independência do Brasil.
Em junho de 1822 a família real portuguesa já havia voltado
a Lisboa (Portugal), por exigência das Cortes (Parlamento português), deixando
aqui como Príncipe Regente Dom Pedro de Alcântara, filho de Dom João VI, rei de
Portugal.
O príncipe Dom Pedro, jovem e
voluntarioso, viu-se envolvido de todos os lados por maçons, que constituíam a
elite pensante e econômica da época. Por proposta do Grão-Mestre José Bonifácio
foi o príncipe iniciado em assembléia geral do Grande Oriente no dia 2 de
agosto de 1822, adotando o “nome heróico” de “Guatimozim” (nome do último
imperador azteca morto por Cortez, no México, em 1522).
Dom Pedro ficou fazendo parte do
quadro da Loja “Comércio e Artes” e na sessão seguinte do Grande Oriente,
realizada em 5 de agosto, por proposta de Joaquim Gonçalves Ledo que ocupava a
presidência, foi o príncipe proposto e aprovado para o grau de Mestre Maçom.
Numa jogada política, Gonçalves Ledo
fez com que Dom Pedro fosse “eleito” Grão-Mestre do Grande Oriente o lugar de
José Bonifácio, sendo empossado em 4 de outubro de 1822.
Embora quase todas as pessoas
influentes junto a Dom Pedro fossem maçons e membros do Grande Oriente, única
Obediência Maçônica então existente, a rivalidade política entre eles era
bastante grande e a disputa pelo poder provocou sérias lutas.
A independência do Brasil foi
proclamada por Dom Pedro a 7 de setembro de 1822, assumido ele a condição de
imperador, com o título de Dom Pedro I. Um mês e meio depois, exatamente no dia
21 de outubro, determinava ele – “primo como Imperador, secundo como G. M.” — o
fechamento “temporário” do Grande Oriente, que acabou se mantendo em vigor
durante todo seu reinado (que terminou com a abdicação ao trono em 7 de abril
de 1831 e sua ida a Portugal para retomar o trono português em poder de seu
irmão dom Miguel, o que ele conseguiu, sendo coroado Dom Pedro IV de Portugal).
Já em 1830 os maçons do Rio de Janeiro procuravam reencetar
os trabalhos que estavam praticamente parados, tendo fundado um novo Grande
Oriente, que viria a ser instalado em 24 de junho de 1831, com o nome de Grande
Oriente Brasileiro, e que viria a ficar conhecido sob o nome de Grande Oriente
do Passeio (nome da rua onde tinha sede).
Em outubro de 1831 um grupo de
maçons remanescentes do primitivo Grande Oriente reinstalou os quadros das três
Lojas Metropolitanas primitivas e escolheu o primeiro Grão-Mestre, José
Bonifácio, para assumir o comando, sendo o Grande Oriente reinstalado em 23 de
novembro de 1831. Em conseqüência, durante 30 anos funcionaram no Rio de
Janeiro dois Grandes Orientes, até que em 1861 o Grande Oriente do Passeio
deixou de existir, sendo suas Lojas absorvidas pelo Grande Oriente do Brasil.
O Grande Oriente do Brasil sofreu diversas cisões durante
sua vida, a maioria delas conseqüência de disputas nas eleições para o
Grão-Mestrado Geral. Todas as dissidências havidas até 1927 acabaram sendo
reabsorvidas ao longo do tempo, com a reincorporação das Lojas e Obreiros à
Obediência do Grande Oriente do Brasil.
O Surgimento das Grandes Lojas Estaduais
Em 1927 aconteceu uma cisão no
Grande Oriente do Brasil que teria conseqüências históricas importantes.
O Grande Oriente do Brasil desde
1854 (e até 1951) era uma “Potência Mista”, adotando o nome de “Supremo
Conselho e Grande Oriente do Brasil”, exercendo o seu Grão-Mestre a chefia da
Maçonaria Simbólica e também o comando dos “altos graus”, como “Soberano Grande
Comendador” do Supremo Conselho do Rito Escocês.
Mário Marinho de Carvalho Behring
(Mário Behring), Grão-Mestre e Soberano Grande Comendador para o período
1922-1925, (o cargo de Soberano Grande Comendador era exercido automaticamente
pelo Grão-Mestre, sem eleição específica para o cargo) renunciou ao final de seu
mandato, mas declarou que se mantinha como Soberano Grande Comendador do
Supremo Conselho.
Vicente Neiva foi eleito Grão-Mestre do Grande Oriente do
Brasil, tendo como adjunto Fonseca Hermes; antes que pudesse resolver a
pendência criada por Mário Behring, Vicente Neiva morreu (18 de fevereiro de
1926) e assumiu o Grão-Mestrado seu Adjunto, Fonseca Hermes, amigo de Behring,
que com este assinou um tratado em 22 de outubro de 1926, reconhecendo a
independência do Supremo Conselho.
A 21 de março de 1927 Octávio Kelly
era empossado como Grão-Mestre Adjunto e a 6 de junho desse ano, pressionado,
Fonseca Hermes licenciava-se do Grão-Mestrado, entregando o Grão-Mestrado a
Octávio Kelly.
Sabendo que Octávio Kelly não dividiria com ele o poder, a
17 de junho de 1927, Mário Behring promoveu uma reunião com apenas treze dos
trinta e três membros do Supremo Conselho e declarou-o rompido com o Grande
Oriente do Brasil.
Para dar suporte ao seu Supremo
Conselho do Rito Escocês, Mário Behring estimulou a criação das Grandes Lojas
estaduais — que já vinham sendo montadas sigilosamente —, outorgando-lhes
Cartas Constitutivas emitidas pelo seu Supremo Conselho.
Foram assim criadas as Grandes Lojas
da Bahia (que havia sido fundada em 22 de maio de 1927), do Rio de Janeiro (fundada
em 18 de junho de 1927) e de São Paulo (fundada oficialmente em 2 de julho de
1927), a que se seguiram outras.
Essas Grandes Lojas Estaduais e as
Lojas que as compõem existem até hoje, como Obediência estaduais independentes
umas das outras. Para dar um cunho nacional à sua existência elas criaram uma
entidade denominada “Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil – CMSB”, que
é presidida em rodízio anual pelos Grão-Mestres das diversas Grandes Loja
estaduais.
Os Grandes Orientes Independentes
Em 1973, também por questões eleitorais, houve a última
cisão registrada no Grande Oriente do Brasil, com o surgimento dos Grandes
Orientes estaduais independentes, congregando Lojas que discordaram do
resultado das eleições para o Grão-Mestrado Geral.
A cisão a princípio foi bastante
volumosa, mas ao longo destes anos muitas das Lojas que haviam se rebelado
voltaram à Obediência do Grande Oriente do Brasil.
Muitas das reclamações das Lojas
quanto à estrutura de poder no Grande Oriente do Brasil ficaram superadas com
as alterações havidas posteriormente, principalmente a mudança da sede, em
1978, da cidade do Rio de Janeiro para a nova Capital Federal do Brasil
(Brasília, DF).
De qualquer forma ainda existem hoje
algumas centenas de Lojas agrupadas nesses Grandes Orientes independentes na
maior parte dos Estados brasileiros.
Cada um desses Grandes Orientes é
independente uns dos outros, pois sua posição inicial era contra a Federação
Maçônica Nacional.
Mas com a necessidade de ter um
caráter nacional, também eles acabaram constituindo uma entidade denominada
“Colégio de Grão-Mestres” que hoje se chama “Confederação Maçônica Brasileira –
Comab”, presidida em rodízio anual pelos Grãos-Mestres dos diversos Grandes
Orientes independentes.
Obediência
mais recente: Grandes Lojas Unidas do Brasil
Mais recentemente, a cerca de 10 anos surgiram as GRANDES
LOJAS UNIDAS, que estão em processo de formação, e pelo que consta, elas estão
em 9 estados brasileiros.
Elas funcionam, nos mesmos moldes
das Grandes Lojas Estaduais e dos Grandes Orientes Independentes, e através da
COMUB (Confederação da Maçonaria Universal Unida no Brasil), fundada a partir
das Grandes Lojas Unidas do Brasil em 28 de Julho de 2002 na Cidade de Campo
Grande, capital do Estado de Mato Grosso do Sul, no Templo Palácio da união
Maçônica (sede magistral da GLUSA) estão se filiando a esta Confederação,
Obediências que até então não eram conhecidas, e que somando a elas, já ocupam
17 estados do Brasil e contam com algumas Obediências filiadas vindas de fora
do país, como Bolívia, Portugal e Itália entre outras.
O Grande Oriente do Brasil Hoje
Em 23 de maio de 1951 entrou em
vigor uma nova Constituição do Grande Oriente do Brasil, a partir da qual este
passou a ser exclusivamente uma Potência Maçônica Simbólica, separado física e
administrativamente do Supremo Conselho do Brasil para o Rito Escocês Antigo e
Aceito e das demais Oficinas Chefes de Ritos.
O Grande Oriente do Brasil é, assim,
uma federação nacional de Lojas Simbólicas e Grandes Orientes estaduais e desde
1978 tem sua sede na Capital Federal, Brasília (DF).
Em cada unidade da República
Federativa do Brasil as suas Lojas se agrupam em um Grande Oriente estadual,
organizado nos mesmos moldes do Poder Central.
O Grão-Mestre estadual representa o
Poder Executivo do Grande Oriente do Brasil em seu Estado, exercendo funções
delegadas pelo Grão-Mestre Geral. Estes Grandes Orientes estaduais não são
“Obediências Maçônicas”, mas simples representações administrativas da
Obediência Nacional, o Grande Oriente do Brasil, visando a facilitar o
andamento dos processos burocráticos num país de grande extensão territorial
(8,5 milhões de quilômetros quadrados, ou 3,28 milhões de milhas quadradas).
Por uma questão de comodismo de que
hoje se penitencia o Grande Oriente do Brasil nunca se preocupou muito com o
formalismo das relações internacionais, baseando-se no fato de que, tendo o
reconhecimento da Loja Mãe da Maçonaria Universal, deveria automaticamente ter
o reconhecimento de todas as obediências do mundo, o que a prática tem mostrado
não acontecer.
Em função desse descaso,
principalmente após o término da II Guerra Mundial, diversas Obediências que
mantinham relações formais com o Grande Oriente do Brasil, principalmente no
Continente Americano, estabeleceram relações com as Grandes Lojas estaduais
brasileiras, gerando uma situação às vezes constrangedora, pois recebemos em
nossas Lojas maçons de qualquer Obediência regular reconhecida pela GLUI, mas
nossos obreiros nem sempre são recebidos nas Lojas de algumas dessas
Obediências.
Para reverter essa situação o Grande
Oriente do Brasil passou a dar uma atenção mais efetiva ao seu relacionamento
internacional, cuidando de manter correspondência com as Obediências amigas e
procurando estabelecer a troca de Garantes de Amizade com elas. Graças a essa
atenção restabelecerão nestes últimos dois anos relações formais com nove
Grandes Lojas dos Estados Unidos da América e esta cuidando de regularizar os
tratados com as Obediências da América Latina, algumas das quais foram criadas
pelo próprio Grande Oriente do Brasil.
O
Relacionamento do GOB com outras Obediências
O Grande Oriente do Brasil encara pragmaticamente as outras
Obediências Maçônicas em funcionamento no País. Admite que elas existam como
conseqüência de dissidências havidas dentro de sua própria Obediência, e que a
maioria de seus atuais membros ingressou nessas Lojas sem ter idéia de que no
Brasil houvesse mais de uma Maçonaria (mais que uma Obediência).
A grande maioria das Lojas filiadas às Grandes Lojas
estaduais e aos Grandes Orientes Independentes trabalha regularmente segundo os
preceitos universais da Ordem, seguindo os ditames da Constituição de Anderson.
Em face dos princípios de soberania
territorial não poderia haver intervisitação de maçons dessas Obediências, mas
a realidade nos mostra que as Lojas dos três sistemas recebem com maior ou
menor freqüência visitas de obreiros das outras Obediências, desde que
pertencentes a uma Loja considerada “regular”. Não se consideram “regulares”
agrupamentos auto-intitulados de “Lojas livres”, ou ainda vinculados a
organizações que se dizem “maçonaria mista”, “maçonaria feminina”.
As administrações do Grande Oriente
do Brasil e seus Grandes Orientes estaduais federados mantêm no geral relações
cordiais com as administrações das Grandes Lojas estaduais e dos Grandes
Orientes Independentes, sem que isso implique um “reconhecimento” formal.
No caso dos Grandes Orientes
Independentes não existe interesse em estabelecer-se o reconhecimento, por se
tratar de uma dissidência relativamente recente e motivada por razões que
acabaram superadas, como o sistema federalizado, a representação das Lojas
junto ao Poder Central e a sede deste na Capital Federal.
O sentimento generalizado é que
sendo estruturas semelhantes e baseadas nos mesmos princípios administrativos,
o lógico em benefício da Sublime Instituição seria a fusão de todos na
Federação Maçônica Nacional, como já aconteceu anteriormente com outras
dissidências havidas ao longo da história.
Outras facetas das Grandes Lojas Estaduais
A estrutura delas é dentro do sistema tradicional de uma
Grande Loja e cada uma é independente em seu Estado, à semelhança do sistema
norte-americano. Não existe uma Grande Loja nacional, o que dificulta as
conversações, pois o Grande Oriente do Brasil é de caráter nacional e seu
Grão-Mestre fala e decide por toda a Obediência, enquanto da parte das Grandes
Lojas cada um dos 26 Grão-Mestres estaduais tem autoridade própria e, também,
peculiaridades locais a serem consideradas.
Além da questão da territorialidade
e soberania, existe outra dificuldade ainda sem solução para um possível
tratado de reconhecimento entre o Grande Oriente do Brasil e as Grandes Lojas
estaduais brasileiras. Segundo definição do R. W. M. Michael Higham, Grande
Secretário da Grande Loja Unida da Inglaterra, as Grandes Lojas estaduais
brasileiras são consideradas por aquela Potência como “espúrias pela origem”,
por terem sido criadas por um Supremo Conselho e não por outra Grande Loja, o
que as tornaria impossíveis de reconhecimento segundo os “oito princípios de
regularidade” de 1929.
A posição do Grande Oriente do
Brasil é de expectativa, aguardando a evolução dos acontecimentos para
verificar o que pode ser feito no sentido de unificação da Maçonaria Brasileira
sob um único comando, que nos daria muito mais força junto à sociedade profana.
Escolhi a maçonaria para meu convívio,
porque: Eu aprendi que para se crescer como pessoa e preciso me cercar
de gente mais inteligente do que eu.